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Olhares e sorrisos - parte 4

Como desligar corpo e mente após um sonho desses? Sendo sincero, nem o banho gelado faz efeito. Penso em me tocar, me aliviar, mas vejo a hora e percebo que já estou muito atrasado para ir trabalhar.

Solto um palavrão reclamando da vida adulta. Termino meu banho e me troco, mas o tesão não deixa meu corpo, algo que fica evidente mesmo usando uma calça jeans.

Vou para a empresa torcendo para ninguém reparar e não passar vergonha na rua. O trajeto rápido parece demorar uma eternidade, mas finalmente chego ao meu trabalho.

Consigo ir para minha sala sem chamar atenção, tanto pela minha situação como pelo meu atraso. Começo meu expediente e logo de cara um dos e-mails recebidos me chama atenção.

Uma reunião logo no começo da tarde para tratar de um dos projetos que estava deixando minha rotina um caos.

Esse e-mail faz com que eu esqueça do sonho por completo. Sendo sincero, esqueço até quem eu sou. Um misto de ansiedade e apreensão toma conta de mim.

Olho para o relógio de cinco em cinco minutos. A hora não passa. Penso em sair para almoçar, mesmo sem fome, mas meu estômago dá uma reviravolta só de pensar nisso.

Não tem jeito. Toda atenção (e tensão) estão nessa reunião. Finalmente chega o horário e entro na sala. Me alivia um pouco ver que quase todos meus colegas estão tão ou até mais apreensivos do que eu.

Sabe aquele silêncio ensurdecedor? Confesso que eu quase consigo escutar o coração batendo de quem está ao meu redor.

A nossa gerente entra na sala, a princípio muito séria, sem dizer nada. Olhando para todos quieta. Observa, analisa. Em seguida ela vai até a porta e a abre. Nossa copeira entra na sala com um carrinho com taças e um balde com garrafas de champanhe.

- Parabéns pelo trabalho árduo, noites sem dormir e aguentar toda essa pressão. O projeto foi aprovado! - são as primeiras palavras ditas e que causam um misto de reações na sala.

Meu corpo relaxa de uma forma que eu não sentia há tempos. O esforço compensou e quero poder comemorar.

A notícia do projeto aprovado vem acompanhada de um belo bônus e uma semana de folga para todos nós.

Brindamos e aproveitamos o champanhe, sorrindo, nos abraçando. Sabendo que fizemos nosso melhor. Que todos estavam na mesma pegada e no final deu tudo certo.

Pego meu celular e entro no grupo, querendo compartilhar a ótima notícia. E querendo celebrar esse fato. Proponho sairmos para um bar, comer, qualquer coisa.

Porém dessa vez é o grupo que está sem agenda livre. Todos com compromissos diversos. Brinco que estão dando o troco por eu não estar presente nos últimos encontros, mas claro entendendo a rotina puxada de todos.

Decido aproveitar sozinho mesmo. Passo no mercado, compro duas garrafas de um vinho que eu queria experimentar há tempos, além de ingredientes para fazer um jantar especial para mim.

Chego em casa e decido primeiro tomar um banho de banheira bem demorado e resolvo abrir uma das garrafas. Uma música de fundo e no primeiro gole minha mente passa por tudo que aconteceu nos últimos tempos. O cansaço, tensão e stress dando lugar a uma tranquilidade e paz. E aí lembro de ti, um sorriso aparece no meu rosto.

Termino o banho e vou cuidar do meu jantar. A noite está quente então opto por colocar apenas um avental, afinal estou sozinho e não espero nenhuma visita.

Enquanto estou cozinhando escuto os trovões anunciando uma chuva pesada. Mais um motivo para eu curtir minha noite em casa.

Já com a chuva rolando, ou melhor dizendo, uma tempestade caindo, recebo uma mensagem sua no meu celular.
"Estou aqui embaixo ensopada, abre a porta para mim?"

Por um segundo fico tentando lembrar quando te passei meu endereço a ti, mas depois recordo que já mandou a entrega na minha casa, ou seja, já sabia onde eu morava. Depois me preocupo com isso.

Vou até o quarto para colocar uma bermuda e ir te recepcionar. Te cumprimento rapidamente e entramos em casa.

- Que cheiro bom, o que teremos para jantar? - você comenta rindo assim que entra.

- Mais tarde quem sabe você descobre. Primeiro vai tomar um banho depois dessa chuva toda. A última coisa que quero é ter que cuidar de uma criança gripada - digo rindo e te "empurrando" para o banheiro.

Você faz um biquinho simulando estar brava, mas vai para o banho enquanto eu vou até meu quarto e busco alguma roupa que possa servir em ti.

As opções não são muitas, então pego uma camisa e uma camiseta minha e uma bermuda para você tentar improvisar um visual de última hora. Aproveito e já separo uma roupa para mim. 

Deixo você aproveitar seu banho e volto para a cozinha. Apesar da surpresa de última hora não vou ter problemas em mudar as quantidades para um jantar para duas pessoas.

Enquanto estou no preparo escuto você sair do banheiro.

- Deixei algumas roupas separadas no quarto, pode ir lá se trocar com calma e daqui a pouco vamos comer.

Sigo cuidando do jantar e escuto você entrar na cozinha. Olho para ti e te elogio.
- Ficou melhor do que eu nesse visual – sorrio, antes de me focar no fogão para terminar o jantar.
- Precisa de ajuda com algo? – você pergunta, enquanto tenho a sensação de que você está me observando.
- Olha, se puder, pode ir ajeitando a mesa para jantarmos daqui a pouco – respondo enquanto escuto você chegando perto.
- O cheiro está ainda melhor. O que vamos comer? – me pergunta.
- Espero que goste de risoto de tomates – pego uma porção e te ofereço para experimentar.
- Não está ruim, mas já comi melhores – você diz rindo, em um tom meio de provocação.
- Vai logo arrumar a mesa, senão vai ficar de castigo – respondo fingindo estar bravo.

Você vem perto de mim, dá um beijo na minha bochecha, mas novamente bem próximo dos meus lábios e vai para a sala arrumar as coisas.

Jantar pronto, levo as panelas para a mesa já arrumada por você e aproveitamos o momento um ao lado do outro. Conversas leves, muitas risadas, acompanhadas de uma boa comida e taças de vinho.

O papo é tão bom que não vemos o tempo passar, enquanto a chuva volta a cair pesada lá fora, tanto que escutamos um estouro na rua e logo em seguida todas as luzes se apagam.

Você se assusta e instintivamente pega em minha mão, com seu olhar cruzando com o meu.
Pego de leve em sua mão e aviso que vou buscar algumas velas para não ficar totalmente no escuro.

Quando volto você brinca, perguntando se eu quero criar um clima romântico. Respondo apenas com um ´talvez´ sorrindo para ti. Vejo que a garrafa de vinho está vazia e pergunto se quer mais uma.  

- Nesses imprevistos da noite eu até esqueci que tinha trazido uma surpresa para você. Espero que goste. Já volto – diz para mim, mais uma vez deixando-me admirar seu lindo sorriso, pegando uma vela e saindo da sala.

Fico ali, ansioso. O barulho da chuva com a luz de velas, após ter aproveitado um ótimo jantar e uma companhia agradável me relaxam.............

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