Flavinho

Fim de mais um dia de trabalho. Como em outros dias, consigo me desligar dos problemas e preocupações profissionais.  E nessa hora deixo que a "pessoa física" venha à tona. Caminho sem pressa, com a música nos fones de ouvido, tentando me abster do que acontece em volta. Me perco nos meus pensamentos. Sem dar atenção ao que está ao meu redor. O pensamento está longe. Muito longe de onde estou. Sinto gotas de água caindo pelo meu rosto e relaxo. A chuva normalmente acalma minha alma. Diminuo o passo ainda mais. Tentando me achar dentro do labirinto que meus sentimentos me levam, mas ao mesmo me vendo em um lugar acolhedor e tranquilo. Onde o único ruído é dos meus passos. Uma buzina na rua me coloca de volta ao mundo real. Sinto meu rosto molhado, mas reparo que a calçada está seca. Reparo que eu mesmo estou seco, com exceção do meu rosto. Percebo que a chuva foi apenas fruto da minha imaginação.  Passo o dedo no meu rosto e levo até meus lábios. O sabor é inconfundí

Você aparece na minha frente, da forma como estava acostumado a te ver. A forma de me olhar, a forma de conversar comigo. As palavras com um certo tom de frieza, mas seu corpo demonstrando algo totalmente diferente. Mesmo brava comigo, arrisco te convidar para uma dança. Relutante, você aceita. Começamos a dançar como se não falássemos a mesma língua. Por motivos que só dizem respeito a nós dois, a dança não possui a mesma entrega e conexão de antes, como se fosse uma primeira dança, entre dois estranhos. Mas aos poucos, o "diálogo" começa a acontecer e a dança começa a fluir. A entrega não é completa, mas mesmo assim, continua sendo mais intensa que muitas que já tive em minha vida. A conexão e sintonia única. De alguém que sempre fez cada dança ter sua identidade. Ser marcante. O corpo treme. Sentimentos vindo à tona. Sorrio e me arrepio. Procuro seu olhar, desvio deles. Coração bate descompassado. Seu toque me desconcentra, seu calor me tira do eixo. Seu perfume toma

Um jantar à luz de velas. Um bom vinho escolhido de antemão com petiscos para serem comidos com palitinhos. Me desculpo pelo acompanhamento "simples", mas digo que você vai entender. Ao pegar o guardanapo, você encontra uma venda. Mostro que também tenho uma para meu uso. Percebo um leve sorriso malicioso em seu rosto, mas aviso que pelo menos por hora, a intenção é mais pura. O leve calor das velas nos aquece, na medida que vamos nos acostumando a falta de visão. O nosso entrelaçar de dedos enquanto peço para me contar como foi seu dia. Consigo visualizar cada expressão do teu rosto, a forma debochada, séria e empolgada, dependendo do assunto que você aborda. Te vejo sem te ver. Por mais que eu admire seus traços, te ache bela, é uma oportunidade de estar ainda mais conectado a ti. Perdemos a noção do tempo. Uma sensação de leveza, um clima sereno. Em paz. Percebo detalhes que muitas vezes passam despercebidos. E no tom das suas palavras te desvendo. E